quarta-feira, 9 de março de 2011

CARNAVAL 2011 - DO LUXO AO LIXO

Carnaval de Maricá, do Luxo ao Lixo!

Até aos finais dos anos 80, este município, era considerado uma região praiana comparável a Búzios e com construções de casas de veraneio sofisticadas, hoje tenho muita pena da infância que já conta com falta de preparo social e funcional da cidade. Lembro em minha infância ir aos clubes, brincar o carnaval, levada pelos meus pais que se sentavam em mesas, muitas vezes compradas com antecedência para nos ensinarem o comportamento que os seus pais, meus avôs lhes haviam também ensinado. Enquanto se socializavam com vizinhos e conhecidos, vivíamos um carnaval muito distante destes visto na televisão e nas ruas o qual não censuro pelos tempos que atravessamos, mas também não apoio por entender que não trazem valor cultural agregado.

No entanto, o retrato de Maricá/RJ, é uma cidade em que desembarcam os forasteiros menos preparados, os predadores, aqueles que não consomem, querem aproveitar tudo e deixam o lixo em local indevido. Não esquecendo que nem sequer usam pousadas (pois não tem recursos para isto), acampam em faixa marginal de lagoa, área protegida, tomam banho, defecam e comem por ali. Um conjunto de cabanas, tendas e caminhões (até mesmo carro-pipa) se instalam nestes locais, providencialmente queimados dias anteriores, por agentes disfarçados, mas depois que escutei que até vereador iria acampar entorno da lagoa (repito não é permitido por lei), vêem aqui um anarquismo propício a este tipo de comportamento.

Se a prefeitura e seus representantes o fazem porque não fazemos igual ou pior? O turista é o reflexo daquilo que é oferecido, se não temos nada, somente os miseráveis (nem que sejam só de espírito) é que estarão por aqui. Se oferecermos locais limpos, conservados e demais necessidades de infra-estrutura, teremos um turista diferencial e oportuno, e assim os outros nem perto passam, hoje só estão aqui por que vislumbram o oportunismo até mesmo financeiro.
Durante um passeio de fim de semana optamos seguir pela estrada de Jaconé, passando por Ponta Negra, na ida vi cenas deprimentes e acampamentos desordenados em áreas irregulares (até porque aqui em Maricá, não existem um campings próximos às orlas em áreas delimitadas com sistema de estacionamento, luz, água, sanitários e refeitório), lixo e desordem. Imagem que muda significativamente ao sairmos da Cidade, no retorno, refizemos o mesmo caminho, e ficamos parados sobre a ponte do canal que liga Ponta Negra á orla, diante de obscenidades, desordem, sujeira, comércio ilegal e tantas outras coisas. Muitos destes vieram destas barracas de acomodação e provavelmente nunca retornarão, sem referência, sem contato, completamente anônimos, que também jamais saberemos de onde vieram, suas histórias e para onde irão.

Em algum momento nós tendemos a ser solidários, arriscando nossas próprias vidas, ou seremos vândalos demais, numa debandada humana como num arrastão, sem temer sanções. Em ambos os casos sentem-se encorajados porque pensam que as outras pessoas na multidão provavelmente irão apoiar seus comportamentos, e até mesmo aplaudir. Deveria haver policiamento, guardas de transito entre outros serviços de ordenamento público em eventos como estes que são públicos e esperados, isto faz parte de um planejamento prévio e qualificado para estruturação de qualquer ação em que multidão seja mobilizada. Não havia apoio policial, nada neste sentido, só indivíduos protegidos por este anonimato ainda indecifrável se do bem ou do mal, talvez no liminar dos dois sentimentos, esperando somente uma fagulha para usar como ignição.
Enquanto alimentarmos e permitirmos mentiras como a do encontro de motociclistas, onde mais de 50 mil estiveram naquele local (no domingo eram aproximadamente 3 mil, se tanto) e lotaram aquele espaço restrito, se fossem 50 mil teríamos um evento de visibilidade nacional! Acredito que até a chuva tenha sido propicia, refrescando os espíritos, lavando as almas e hidratando com segurança.

Cada vez mais temos menos a oferecer aos nossos filhos, nos trancamos em nossas casas como o ultimo refúgio de nossa segurança, na esperança que passe logo, muito ao contrário do passado quando torcíamos para que se prolongasse indefinidamente, nas nos socializamos nem integramos por receio que tirem vantagens sobre nós. Certos conceitos precisamos resgatar, outros renovar, pensem nisso, que mundo estamos deixando, não para nossos filhos, mas para nossos netos?

Ana Paula de Carvalho, membro do movimento Luto por Maricá

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